sexta-feira, 15 de novembro de 2024

FLORES NA JANELA 3 (continuação)

                         FLORES NA JANELA 3


No final da tarde, depois de conversarmos horas a fio sobre nossas novelas particulares, Juracy nos convidou para desfrutarmos de seu novo trabalho energético. Topamos, ela era ótima nisso, mas fizemos aquelas carinhas implicantes que só irmãos conhecem.

- Tylia e Rita, parem de botar os olhinhos para cima, tá? Temos muitas coisas para limpar nesse nosso mundinho de culpas e sentimentos de inadequação. Já deu! Quando aplico essa técnica eu também recebo seus benefícios. Vamos?

- Está certo, vamos sim, dissemos rindo.

- Olhos fechados, respirando, desacelerando, sentindo..., vamos concentrar a atenção em cada parte do nosso corpo: pé direito, esquerdo, pernas, tronco... 

E Juracy foi nos conduzindo a um relaxamento delicioso.  

- Imaginemos uma luz dourada nos nossos pés curando as velhas expectativas infantis de sermos mimadas como bebês carentes... essa luz sobe até os joelhos e vai limpando as ideias cheias de preconceitos que assimilamos na vida, as crenças equivocadas que aprendemos com outros... e a luz dourada sobe agora pelo nosso tronco e vai penetrando nas células, tecidos e órgãos, limpando medos, culpas, traumas de rejeições, receios de escassez, injustiças e negatividades até chegar à região do peito, penetrando nos nossos corações e reparando as rachaduras feitas por mágoas, rancores e ressentimentos transmutando tudo isso em amor e perdão... e a luz sobe mais ainda pelas nossas gargantas limpando os momentos em que nossas vozes ficaram presas, resgatando as verdadeiras expressões perdidas, até chegar à cabeça, iluminando nossas visões sobre a vida. Na tela mental, estamos agora diante de um lago de águas azuladas, transparentes, em cujo centro há um grande cristal azul. Vamos juntas mergulhar de cabeça nessas águas, 1, 2, 3... já! Nademos até o cristal. Tocamos nele e recebemos uma energia cheia de paz, saúde e alegria de viver. Ao sair do lago, lentamente voltamos a esse momento, aqui e agora... e no nosso tempo, vamos abrir os olhos... 1,2,3!

Que delícia, que sensação de leveza! Emocionada, abri os olhos, e tive uma enorme surpresa que fez meu coração disparar depois de todo esse relaxamento: descobri que a porta da casa estivera aberta e que ali, num canto da sala, Milton, com uma garrafa de vinho nas mãos, sorria para mim. Depois de apresentações rápidas, minhas irmãs, com  carinhas debochadas e insinuações com os olhares, foram embora e... ficamos ali apenas nós dois.


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

FLORES NA JANELA 2 - continuação

 FLORES NA JANELA (continuação )  


De madrugada, sem sono, sem fome, envolta em pensamentos diversos, rolando na cama, decidi me levantar. Fiquei andando pela casa, e depois me sentei no sofá da sala, relaxei, respirando. Fui até a janela para ver o dia ir clareando, até começar a ouvir barulhos de outros que também acordavam cedo. E percebi que Milton já estava molhando suas plantas, e talvez estivesse se preparando para começar seus exercícios ao ar livre. Que homem interessante! Essa disposição era tudo que eu queria ter. Mas não sabia como começar a mudar a preguiça crônica que alimentava há algum tempo. Enfim, calcei meu tênis, dei um jeito no cabelo, porque há tempos não me sentia vaidosa, e decidi ir até ele, tentar me aproximar. Minhas irmãs sempre diziam que eu não era proativa nos relacionamentos. Peguei algumas mudinhas de minhas flores na janela, lembrando de nosso encontro, rindo da minha ousadia, e saí. Iria oferecer um presente a quem estava de alguma forma me trazendo novas energias, eu pensava, toda empolgada 

  • -Bom dia, Milton! Vi você tão compenetrado no seu jardim, e resolvi te oferecer essas mudinhas. 

  • -Oi, Tylia, bom dia, que gentileza, obrigado! Vou cuidar delas direitinho. Como vai, também costuma acordar cedo? 

  • -Pois é, novidade na minha vida.  

  • -Eu te ofereceria um café, mas estou com certa pressa porque tenho um compromisso... 

Foi quando eu vi uma mulher que me pareceu jovem e bonita sair de sua casa dizendo que já estava indo e esperava por ele no carro.  

-Tudo bem, não se preocupe, só estava passando e... 

  • -Fico te devendo esse café, disse saindo apressado.

Cheguei em casa me sentindo péssima, uma idiota, e fui para o meu cantinho da tristeza, uma poltrona onde costumava me encolher, ficar chorando e me criticando, deixando que energias mal-intencionadas ao meu redor se alimentassem desse meu estado de espírito. Em geral, seguia com uma lista de exigências, mágoas e ressentimentos, terminando em culpa. Como não havia percebido a idiotice de levar flores para um homem que sequer conhecia direito? Que vergonha! 

Juracy abriu a porta da casa quando eu estava jogada nessa poltrona. Colocou as compras da padaria na mesa, e percebendo meu desânimo foi buscar água, me ofereceu um copo, pingando os florais que estavam na mesinha ali perto. Logo em seguida, Rita também entrou e ficou ali parada me olhando. Minhas irmãs tinham a chave de minha casa e vinham me ver sempre que podiam, porque ela era mais aconchegante, como elas diziam, e nós não podíamos ficar muito tempo longe umas das outras. Levantei-me e fui para a cozinha providenciar o café que acompanharia nossas guloseimas. O tema? Falaríamos sobre a vida e as expectativas loucas que construímos para sair das solidões. 

sábado, 19 de outubro de 2024

Flores na Janela

                            Flores na Janela

 


Deixei-me levar pelo barulho da chuva, enquanto contemplava as flores na janela da sala.  Foi quando vi meu vizinho, que até então só conhecia de vista, todo molhado, perto da minha casa. Abri a minha porta, e lhe fiz sinal para entrar. Ele aceitou e agradeceu. Enquanto lhe oferecia uma toalha, falei:

-      - Todos os dias te vejo cuidando de seu jardim, e fazendo exercícios com a desenvoltura e a flexibilidade... 

-     - De um rapaz, você quer dizer. Pois é, precisei me empenhar nessa flexibilidade, como você diz, para compensar a passagem do tempo. 

-      - Nossa! Desculpe... não parece, quer dizer... é que ... Ah! Não sei o que falar!

Rimos os dois, e aproveitei para lhe oferecer um chá quente. Ele aceitou sorrindo e com as nossas xícaras, nos sentamos à mesa da sala, olhando a chuva, dando pequenos golinhos em nossos chás. Eu comentei que a chuva estava regando as flores na minha janela. Continuei falando sobre como gostava daquele colorido, já refeita de qualquer constrangimento, percebendo que ele também estava muito tranquilo, à vontade.

-      - Pois é, me falta essa sua energia. Acho que é a idade chegando...

-     - Energia a gente trabalha, há bloqueios que precisam ser estudados e...

-      - Estou informada sobre desbloqueios energéticos, coisa e tal. Conheço até alguns exercícios que procuro fazer. Sabe, às vezes fico pensando em como eu seria depois de desbloquear os tais canais energéticos, na minha idade, isso caso eu consiga ter sucesso com esses trabalhos. Será que ainda dá tempo?

 - Ah, não me diga que você é uma pessoa que se avalia pela idade que tem. Se acreditarmos que não há limite de idade para mudarmos, e buscarmos caminhos que devolvam aquela alegria que nos mantinha de pé...

-     - Já sei! Descobrirei uma nova disposição que poderá me iluminar. Já li muito a respeito, mas não sei se acredito.

-      - Você leu e tentou aplicar?

-       - Bem, algumas vezes, mas sei lá, esqueço, busco outras coisas que preciso fazer, e quando vejo, desisti. Acho que é porque quero resultados imediatos. Na minha idade, não há tempo a perder.

-      - Sei, mas há coisas que precisam de tempo e esforço para se manifestarem, e quem sabe, se você insistir, possa ainda se surpreender com resultados inesperados?

-      - Quem dera! Você quer dizer que é possível reencontrar motivação para descobrir coisas novas, com sede de aventuras? 

-      - A gente se apaixonar outra vez, ter novos interesses, isso sim é possível! Acho que se trata de ver as coisas mais simples sem essa mania de rotulá-las de chatice, por exemplo, fazendo outro tipo de arte, criando coisas diferentes.

-       -E como devo olhar para o espelho, diariamente, encarando as mudanças óbvias...

-     - Nem precisa continuar ... desculpe, seu nome é...

-       -Tylia. Meu nome é Tylia. E você, como se chama?

-       - Milton. Sei aonde você quer chegar, Tylia. Depois dos primeiros sustos diante das transformações com a constatação da chegada da idade, decidi trabalhar com aquilo em que deveria acreditar daqui por diante: se estava passando agora por um novo portal, deveria perder o medo dessa palavra “envelhecimento” e me ver como alguém vivenciando uma outra fase da vida, também com novidades e desafios. Decidi que faria isso sem dramas, sem me sentir vítima.  Bem, a chuva parou e vou indo... Obrigado por me abrigar e pelo chá. Foi um prazer te conhecer.

-       - Podemos conversar mais sobre levar a vida...

-      - Sim, será ótimo.  Até breve, Tylia.    

A chuva havia parado, e o cheiro do mato me convidou para uma caminhada. Decidi resistir a ideias de restrições por conta do envelhecimento, e aumentar o meu fôlego. Enquanto caminhava, lembrei dos tempos em que eu gostava de me exercitar, e agora me perguntava se estaria acreditando num envelhecimento que supostamente traria a perda de tudo que dá sentido à vida, e ainda, se estaria seguindo algum manual vindo sei lá de onde com regras idiotas de como se viver. Nesse momento, algo me fez olhar para o céu. Estava ainda nublado, mas vi uma pontinha de azul se abrindo nele. Sorri. Algo em mim também estava pedindo passagem para se abrir. 

segunda-feira, 15 de julho de 2024

A quem damos o nosso amor?

 


A quem damos nosso amor? 

Há muitas razões para aceitarmos nosso investimento de energia amorosa nos outros e dizer "Sim!" a situações em que queremos dizer "Não!" em alto e bom som. Às vezes queremos ajudar, mas na verdade estamos impedindo o crescimento do outro; também pode acontecer de darmos a alguém nosso afeto mais profundo, fazermos esforços, até sacrifícios, e nem sequer somos percebidos, muito menos valorizados. E ainda é muito comum nos deixarmos levar pelo desejo de reconhecimento, em busca de elogios que aumentem nossa autoestima. E assim vamos nós, sorrindo, mostrando ao mundo o quanto somos legais. 

Mas, dizer "Não!" a algo ou alguém não é abandono, agressão ou malvadeza, ao contrário, significa que respeitamos nossos limites e possibilidades, estamos de bem com a vida, e pode sim ser considerado um ato de amor. Não se trata de gritos, de desequilíbrio emocional, porque quando temos confiança em nosso discernimento, o limite é completamente firme e não deixa dúvidas. Se reaprendermos a sentir, ouvindo nosso corpo, onde desaguam as emoções, nosso coração, e nos permitirmos refletir, haverá clareza em nossas ações. 

É tudo tão automático que até esquecemos como desligar o eterno botão "Sim!" para dizer "Não!" quando necessário. Mas quando decidimos não fazer coisas que nos atropelam, não nos trair mais por medo de caras feias, não nos deixarmos mais sucumbir pelas culpas ou pela necessidade de aparentarmos perfeição, a mágica acontece: para cada "Não!" que dizemos a algo ou a alguém que não é bom para nós, dizemos "Sim!" a nós mesmos! E, ao darmos amor a nós mesmos, nos permitimos amar verdadeiramente o próximo. Ao fazer isso, liberamos equívocos sobre nosso poder destrutivo que imaginamos que outras pessoas não poderiam suportar. É também como desistimos de jogos que manipulam nossas emoções. E em vez de nos abandonarmos, perdermos energias, renunciarmos ao nosso verdadeiro tesouro, a esta capacidade humana de refletir e tomar decisões sem medo, nos tornamos leves, livres e soltos para aprendermos a fazer concessões sinceras e amorosas.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

UÉ...

 


UÉ...

Dizem que pra bom entendedor meia palavra basta, mas fiquemos espertos! Nem sempre aquilo que deveríamos ter dito claramente, mas não dissemos por esse ou por aquele motivo, leva o outro a reagir como se espera. É sempre bom lembrar que jogar com o que a nós parece implícito pode ser arriscado, porque traz consigo infinitas interpretações ... e depois não adianta reclamar, certo?
Julieta reencontrou Pedroca numa balada, divertiram-se muito dançando e bebendo, rememorando sua antiga paixão de adolescentes. Acabaram juntos na casa dela, e no dia seguinte, ela toda faceira, acordou bem cedo, e serviu a ele café com suas especialidades culinárias. Pensou que finalmente tinha encontrado sua alma gêmea, quem diria, o Pedroca. Pela sua lógica, ele deveria estar pensando da mesma forma, porque os tempos passados haviam deixado marcas nela dessa paixão que haviam vivido na época, e tinha certeza que nele também. Mas, por motivos familiares e mudanças de cidade não conseguiram levar adiante o romance. E agora, mais de vinte anos depois, o destino os havia juntado outra vez. E sim! Ainda dava tempo de ter um filho, seu sonho que ainda não realizara. Uau, e com Pedroca! Lembrava que tinham até falado sobre isso naquele passado distante.
Julieta deliciava-se com suas fantasias enquanto
Pedroca saboreava os petiscos e o café e pensava que tinha sido um belo reencontro, uma possibilidade de namoro até interessante. Afinal, depois de alguns meses separado de sua mulher, mãe de suas três filhas, ter alguém para lhe fazer companhia, dançar, ativar a vida sexual, por que não? Estava cansado de tantos compromissos familiares que tinha agora como pai, e brincar um pouco era uma excelente ideia. Realmente, na adolescência a história entre eles tinha sido bem legal, assim como com outras namoradas, mas reconhecia que Julieta era uma mulher e tanto. Decidiu deixar rolar como há muito não se permitia, e francamente, ser mimado era tudo de bom naquele momento de sua vida. Beijinhos pra lá e pra cá, nada de conversas muito íntimas ou profundas, e mantiveram a imagem de um passado que nutria o relacionamento como uma espécie de compensação pelo período que estiveram separados. O tempo foi passando, e as expectativas de cada um, que para um observador de fora cheiravam a futuros problemas, estavam sendo deixadas pra trás: ela com a certeza absoluta de ter achado o homem de seus sonhos, e futuro pai de seu filho a ser encomendado; ele com a certeza absoluta de ter achado uma namoradinha sem algum tipo de responsabilidade com família e crianças. Pedroca já tinha se manifestado dizendo ser um pai realizado, mas não se aprofundou no assunto, porque achou que Julieta havia entendido que não gostaria de ter mais filhos. Julieta já havia comentado sobre seu sonho de ser mãe, quando percebeu em Pedroca um sorriso que a fez estar certa de que ele havia gostado da ideia, e para ela, resistências eram comuns, e se vencem com o charme feminino. Por isso, se entregou de corpo e alma ao projeto gravidez. Pedroca, por sua vez, achou que Julieta se esqueceria dessa fantasia de ter filhos. Assunto encerrado? Que nada! Algum tempo depois, surpresa!!!
Julieta estava grávida inaugurando a primeira grande crise do casal. Ué ..., mas como? Nós havíamos combinado, pensou Pedroca. E, mesmo de má vontade, muito aborrecido, teve que aceitar. E Julieta pensava: Ué ..., ele queria e não quer mais?
Primeiro sinal de separação. Sabe-se lá como, o sonho de Julieta teve um fim, e ela perdeu o bebê. Os médicos não conseguiram detectar a causa da perda. Mas vida que segue, e como dizem por aí, o pior cego é aquele que não quer ver. Assim, mais uma vez nenhuma conversa sobre o ocorrido. E pasmem! Outra gravidez, e nova perda. Pois é, conflitos têm seus próprios artifícios, mandam avisos e nem sempre seus sinais são ouvidos. Depois disso, em sequência, o congelamento dos afetos, a inevitável separação, e corações cheios de mágoas.
Pelo que soube, tanto Julieta como Pedroca estão ainda hoje sem entender o que aconteceu: "Ué... mas a gente tinha combinado?". Tinha? Tsk, tsk, sei não. Precisamos cuidar direitinho daquilo que muitas vezes parece estar muito claro, mas na verdade..., não está!

domingo, 9 de junho de 2024

 

Linda

TRIM, TRIM
Ele não toca...
Mais enganos.
Não há mais toque; há tempos a gente nem se toca...
Aliás, ele não se toca mais comigo.
E assim, desse jeito, não tem toque,
Nem dele, nem meu,
E nem do telefone.

As maneiras de se dar um toque são muitas, incluindo aí as modernidades que tornam o telefone algo mais antigo. Mas, os sentimentos são os mesmos. Quem não esperou ansiosamente por uma chamada, nem sempre prometida, mas muitas vezes sim, acreditando e sonhando com os futuros momentos de encontro e/ou declarações?
Linda era uma dessas meninas que estavam sempre à espera do príncipe que ia ligar. Apesar de sua beleza, inteligência e simpatia, estava sempre só, ou melhor, acompanhada de suas expectativas. Não somente namorados ou pretendentes, mas também amigas que a excluíam de passeios e aventuras constantemente.
Colocava na aparência externa todas as cartas. Já havia até cortado sozinha seu cabelo, achando que tudo iria mudar com o novo estilo. Mas, nada. Estava sempre sozinha, sentia-se invisível, de alguma forma errada, diferente, e quando aparecia uma oportunidade, ela mesma tratava de listar um monte de exigências tão absurdas, que em alguns minutos todos se tornavam inadequados, idiotas. Para bom entendendor, somente se interessariam por ela os sem melhores alternativas. Exigente nossa menina. Mas, de certa forma, ela tinha razão, porque seu discurso era sobre merecimento, uma espécie de currículo que supostamente deveria ser apresentado, para ser avaliada a altura de qualquer candidato a namoro ou amizade, uma vez que Linda era linda. Um pouco vazia, é verdade, mas por pura ignorância. Conheci duas garotas assim, lindas e vazias. O encantamento inicial se esvaía em algumas horas, não havia nada para trocar. E quando havia, ninguém estava interessado. Que dilema, atrair pela beleza, usar os outros para aplacar a solidão, e nenhum contato verdadeiro se fazer. Cria-se um mundo de ilusões, de aparências, e de sofrimentos, mais cedo ou mais tarde. 
E assim corria a vida de Linda.Sem compreender nada sobre a situação, passava os finais de semana debruçada sobre todos os meios de comunicação da casa, aguardando os trim-trim dos que pareciam aprovados pelo seu crivo severo. Seria o novo penteado que estava horrível? Seria não se vestir como as outras meninas o motivo de não ser convidada? Precisava se tornar mais linda para ter sucesso? Ela não sabia que apenas precisava ser a Linda, que ela nem conhecia. 
Não sei que fim levou a Linda, mas com certeza, não escapou da maturidade, no mínimo fisicamente. Sim, isso já faz um bom tempo. Quem sabe ficou rica e investiu tudo em tratamentos rejuvenescedores? Talvez tenha desistido da sua lista de exigências, (pois a solidão interna é dura de engolir), e tenha se juntado a quem apareceu primeiro. Pode ser também que tenha passado pelas mãos inescupulosas dos que se divertem com a fragilidade alheia. Ou, ainda, queira Deus, aberto um canal de conexão com suas verdades interiores, e descoberto um mundo maravilhoso ao seu dispor. Tudo isso é possível e muito mais, mas a partir de hoje, ao se pegar esperando um telefonema que não chega, alcance sua bolsa, retoque o batom, e vá passear por aí. Ou simplesmente junte-se a sua alma, que costuma ser uma grande companhia, cheia de idéias criativas. Peça a ela, de coração, para dar um novo rumo àquele currículo velho e desbotado, e vá atrás dos que enxergam o que há por trás das aparências.


sábado, 8 de junho de 2024

 Quem sou eu? 

Gosto de histórias, sempre gostei. Ouvi muitas, mais de cinquenta anos dentro e fora de um consultório de Psicologia. Vivi e ainda vivo as minhas próprias histórias, agora com o sabor da maturidade e daquilo que aprendi pelo caminho. O tempo me ensinou a recortar pedaços de relatos, de percepções, que misturo com reflexões, poesias, sentimentos e imaginação, e saio por aí escrevendo, contando, desejando alcançar quem goste dessa leitura. Simples assim, vale ressaltar que ainda sou uma eterna estudante, curiosa, que sonha ampliar a consciência em direção à sabedoria.