FLORES NA JANELA 3
No final da tarde, depois de conversarmos horas a fio sobre nossas novelas particulares, Juracy nos convidou para desfrutarmos de seu novo trabalho energético. Topamos, ela era ótima nisso, mas fizemos aquelas carinhas implicantes que só irmãos conhecem.
- Tylia e Rita, parem de botar os olhinhos para cima, tá? Temos muitas coisas para limpar nesse nosso mundinho de culpas e sentimentos de inadequação. Já deu! Quando aplico essa técnica eu também recebo seus benefícios. Vamos?
- Está certo, vamos sim, dissemos rindo.
- Olhos fechados, respirando, desacelerando, sentindo..., vamos concentrar a atenção em cada parte do nosso corpo: pé direito, esquerdo, pernas, tronco...
E Juracy foi nos conduzindo a um relaxamento delicioso.
- Imaginemos uma luz dourada nos nossos pés curando as velhas expectativas infantis de sermos mimadas como bebês carentes... essa luz sobe até os joelhos e vai limpando as ideias cheias de preconceitos que assimilamos na vida, as crenças equivocadas que aprendemos com outros... e a luz dourada sobe agora pelo nosso tronco e vai penetrando nas células, tecidos e órgãos, limpando medos, culpas, traumas de rejeições, receios de escassez, injustiças e negatividades até chegar à região do peito, penetrando nos nossos corações e reparando as rachaduras feitas por mágoas, rancores e ressentimentos transmutando tudo isso em amor e perdão... e a luz sobe mais ainda pelas nossas gargantas limpando os momentos em que nossas vozes ficaram presas, resgatando as verdadeiras expressões perdidas, até chegar à cabeça, iluminando nossas visões sobre a vida. Na tela mental, estamos agora diante de um lago de águas azuladas, transparentes, em cujo centro há um grande cristal azul. Vamos juntas mergulhar de cabeça nessas águas, 1, 2, 3... já! Nademos até o cristal. Tocamos nele e recebemos uma energia cheia de paz, saúde e alegria de viver. Ao sair do lago, lentamente voltamos a esse momento, aqui e agora... e no nosso tempo, vamos abrir os olhos... 1,2,3!
Que delícia, que sensação de leveza! Emocionada, abri os olhos, e tive uma enorme surpresa que fez meu coração disparar depois de todo esse relaxamento: descobri que a porta da casa estivera aberta e que ali, num canto da sala, Milton, com uma garrafa de vinho nas mãos, sorria para mim. Depois de apresentações rápidas, minhas irmãs, com carinhas debochadas e insinuações com os olhares, foram embora e... ficamos ali apenas nós dois.