quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Flores na Janela 6 (continuação)

                     FLORES NA JANELA 6


Um lindo jardim e nós dois sentados no gramado fazendo um piquenique, foi assim nosso segundo encontro. Entre sanduíches, bolo e sucos, falei:

-Sinto-me uma adolescente, dessas de filme, sabe? Não é uma reclamação, viu? Estou adorando essa sua ideia.

- Eu também. Não tenho encontrado mulheres como você por aí, com espírito aventureiro, bem-humorada, e que também sabe falar sério.

- Nossa, obrigada, Milton, e digo o mesmo de você. É que somos jovens idosos, sabia. Não falam em jovens adultos, adultos jovens, sei lá? Então, somos jovens idosos ou idosos jovens se preferir.

A conversa foi interrompida por uma beijoca, coisa há muito esquecida. 

- Taí, gostei. E quem seriam os jovens idosos além de nós dois? Milton riu gostosamente, e eu também.

- São as pessoas que estão no início do processo natural de envelhecimento. Estão começando a se dar conta das transformações em vários níveis, lidando com elas, enfrentando suas novas imagens e limites. E aí tem uma série de questões psicológicas, emocionais, além das físicas, e claro, sobre a espiritualidade. É o início de um caminho de novos significados a serem integrados à vasta experiência de vida.

- Entendo... e nós estamos lá, ou melhor aqui. (outra bitoca gostosa). Sim, kkk, mas acho que já andamos um bom pedaço, né?

- Mas nos mantendo firme, Milton. Tive momentos difíceis, quando comecei a ver minhas mãos envelhecidas, e no espelho ficava horas me vendo para assimilar os cabelos brancos, a pele diferente, enfim...tudo. E me perguntava o que eu estaria disposta a fazer para "me disfarçar". Foi quando decidi deixar meus cabelos viverem a sua transformação em paz, brancos sim. Afinal, a quem eu estaria enganando? E passei a cuidar mais da alimentação, do tipo de exercício que gostaria de experimentar, etc.  Aí conheci Teresinha.

- Quem é Teresinha?

- Teresinha me ensinou sobre decretos e raios, mestres, num momento em que algo muito estranho acontecia em minha casa. Ela parecia mal-assombrada, barulhos noturnos, água do filtro de 10 litros secando totalmente em alguns minutos, sem explicação. Comecei a fazer meus decretos e a coisa acalmou. Verdade ou não, abriu o caminho para minhas pesquisas, estudei, li muitos livros, e hoje eu me conecto com aquilo que a minha consciência pede. Medito de maneiras variadas, conforme a intuição.

- Que legal, Tylia! Eu também tenho meu caminho nessa área, muito interessado nas questões energéticas, gosto de estudar e ir experimentando, pulando fora quando sinto que é coisa dos comerciantes da fé. Atualmente também prefiro me conectar conforme minha intuição aponta ser o melhor jeito. Às vezes, caminhando vou entrando num estado meditativo, às vezes, com uma leitura do tipo transportadora, ou com música, e até com os rituais que possam me ajudar naquele momento a me conectar com algo maior do que meu ego.

- Isso mesmo, então, jovem idoso Milton, mas preciso te perguntar uma coisa...

- Pode perguntar, mas se é sobre a mulher que você viu, eu...

- Nós estamos namorando?

- Oi? Agora você me pegou. Estou até lembrando de quando pedi uma garota em namoro na adolescência... 

- kkk e ela?

- Ela me disse um "Não!" sonoro, todos os amigos ouviram e riram. Humilhado, levei um tempo pra voltar a pedir garotas em namoro, mas superei, não se preocupe. Tylia, jovem idosa, você quer ser minha namorada?

- Agora sou eu a ficar tímida, ui! Vou tirar os restos de seu trauma. Quero, quero sim! Mas, Milton, como jovens idosos namoram?

- Isso é o que nós dois juntos vamos descobrir. Vamos brindar?

- Sim! 

E adivinhem quem deu o beijo nessa hora.



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