segunda-feira, 17 de junho de 2024

UÉ...

 


UÉ...

Dizem que pra bom entendedor meia palavra basta, mas fiquemos espertos! Nem sempre aquilo que deveríamos ter dito claramente, mas não dissemos por esse ou por aquele motivo, leva o outro a reagir como se espera. É sempre bom lembrar que jogar com o que a nós parece implícito pode ser arriscado, porque traz consigo infinitas interpretações ... e depois não adianta reclamar, certo?
Julieta reencontrou Pedroca numa balada, divertiram-se muito dançando e bebendo, rememorando sua antiga paixão de adolescentes. Acabaram juntos na casa dela, e no dia seguinte, ela toda faceira, acordou bem cedo, e serviu a ele café com suas especialidades culinárias. Pensou que finalmente tinha encontrado sua alma gêmea, quem diria, o Pedroca. Pela sua lógica, ele deveria estar pensando da mesma forma, porque os tempos passados haviam deixado marcas nela dessa paixão que haviam vivido na época, e tinha certeza que nele também. Mas, por motivos familiares e mudanças de cidade não conseguiram levar adiante o romance. E agora, mais de vinte anos depois, o destino os havia juntado outra vez. E sim! Ainda dava tempo de ter um filho, seu sonho que ainda não realizara. Uau, e com Pedroca! Lembrava que tinham até falado sobre isso naquele passado distante.
Julieta deliciava-se com suas fantasias enquanto
Pedroca saboreava os petiscos e o café e pensava que tinha sido um belo reencontro, uma possibilidade de namoro até interessante. Afinal, depois de alguns meses separado de sua mulher, mãe de suas três filhas, ter alguém para lhe fazer companhia, dançar, ativar a vida sexual, por que não? Estava cansado de tantos compromissos familiares que tinha agora como pai, e brincar um pouco era uma excelente ideia. Realmente, na adolescência a história entre eles tinha sido bem legal, assim como com outras namoradas, mas reconhecia que Julieta era uma mulher e tanto. Decidiu deixar rolar como há muito não se permitia, e francamente, ser mimado era tudo de bom naquele momento de sua vida. Beijinhos pra lá e pra cá, nada de conversas muito íntimas ou profundas, e mantiveram a imagem de um passado que nutria o relacionamento como uma espécie de compensação pelo período que estiveram separados. O tempo foi passando, e as expectativas de cada um, que para um observador de fora cheiravam a futuros problemas, estavam sendo deixadas pra trás: ela com a certeza absoluta de ter achado o homem de seus sonhos, e futuro pai de seu filho a ser encomendado; ele com a certeza absoluta de ter achado uma namoradinha sem algum tipo de responsabilidade com família e crianças. Pedroca já tinha se manifestado dizendo ser um pai realizado, mas não se aprofundou no assunto, porque achou que Julieta havia entendido que não gostaria de ter mais filhos. Julieta já havia comentado sobre seu sonho de ser mãe, quando percebeu em Pedroca um sorriso que a fez estar certa de que ele havia gostado da ideia, e para ela, resistências eram comuns, e se vencem com o charme feminino. Por isso, se entregou de corpo e alma ao projeto gravidez. Pedroca, por sua vez, achou que Julieta se esqueceria dessa fantasia de ter filhos. Assunto encerrado? Que nada! Algum tempo depois, surpresa!!!
Julieta estava grávida inaugurando a primeira grande crise do casal. Ué ..., mas como? Nós havíamos combinado, pensou Pedroca. E, mesmo de má vontade, muito aborrecido, teve que aceitar. E Julieta pensava: Ué ..., ele queria e não quer mais?
Primeiro sinal de separação. Sabe-se lá como, o sonho de Julieta teve um fim, e ela perdeu o bebê. Os médicos não conseguiram detectar a causa da perda. Mas vida que segue, e como dizem por aí, o pior cego é aquele que não quer ver. Assim, mais uma vez nenhuma conversa sobre o ocorrido. E pasmem! Outra gravidez, e nova perda. Pois é, conflitos têm seus próprios artifícios, mandam avisos e nem sempre seus sinais são ouvidos. Depois disso, em sequência, o congelamento dos afetos, a inevitável separação, e corações cheios de mágoas.
Pelo que soube, tanto Julieta como Pedroca estão ainda hoje sem entender o que aconteceu: "Ué... mas a gente tinha combinado?". Tinha? Tsk, tsk, sei não. Precisamos cuidar direitinho daquilo que muitas vezes parece estar muito claro, mas na verdade..., não está!

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