Estar em casa nos permite um novo olhar para aquilo que nos cerca: podemos caprichar nas tarefas que haviam sido envenenadas pelo tédio; redescobrir objetos nas gavetas que têm histórias emocionantes pra contar e andavam meio abandonados; ou ainda nos largarmos naquela poltrona gostosa que namoramos para nossa sala, ler um livro, ouvir música, cozinhar, dormir, dançar...
Bem, como não há nenhum balcão recebendo
reclamações de nossas solidões com toques de supostos abandonos, só nos resta transformá-las, se existirem. Uma boa ideia pode ser a conexão com a beleza de nosso refúgio, como
faz a primavera com as novas flores coloridas surgindo nas árvores e na terra: ela
não se abate com circunstâncias, apenas manifesta-se. A beleza pode estar em qualquer coisa que escolhermos, como uma intenção. Se desejarmos vê-la, ali ela estará, e isso vai depender de nossa criatividade para retirar os véus que a escondem, e que também pertencem a nossas memórias.
A nossa casa nos reflete, muitos já disseram, não é novidade. Espelha nossas procrastinações, manias, necessidades, desejos de conforto, e é essa a beleza: vermos a nós mesmos, nossos cantos preferidos, onde recarregamos as energias para novos enfrentamentos. E, se as necessidades mudam, talvez nossas arrumações também devam se modificar. Com ou sem música, pernas pra cima, lendo ou dançando, ficar em casa pode significar um reencontro com a intimidade de nossas criações, porque ao avaliarmos ou recolocarmos objetos e cantos, viramos uma chave para ressignificações.
Estar em casa pode ser uma espécie de pausa necessária para revelarmos a nós mesmos em que pedaço do caminho existencial estamos, se há modificações urgentes a serem providenciadas, e nos prepararmos para descobrir os próximos passos.