Alegrias Matinais
Era um sonzinho agradável entrando pelo sonho adentro, e aí caiu a ficha: 5:15 da manhã. Tudo escuro. Levantei, lembrei que uma pequena maratona me aguardava, fui preparar café e carregar meu celular. Mais uma daquelas consultas médicas na ordem do dia, passando por filas, esperas e mais esperas, pensei. Vesti-me, coloquei um lanchinho e o livro menos pesado e interessante do momento na bolsa, chamei o táxi, e lá fui eu, achando que nada de novo ocorreria. Talvez seja esse o nosso pior engano: acreditar que tudo é sempre igual, por sermos completamente cegos aos novos eventos que o universo nos lança, ali, bem na nossa cara.
Já na fila, um papo com a mulher da frente me fez lembrar de
episódio semelhante, quando várias pessoas trocaram receitas culinárias regadas
a risadas gostosas numa fila e o tempo voou. Mas,nessa mulher percebi umas
gotinhas amargas de resmungo, e fui saindo de fininho do papo, mantendo meu
lugar na fila atrás dela, além de fixar um sorriso idiota e enigmático. Não
tenho mais paciência para a energia da reclamação em canto nenhum, quanto mais
numa fila para atendimento médico. Mas, passou. E subi para outra sala de
espera, decidida a experimentar a vida do jeito que ela é, observando,
sorrindo, pensando...sentada ali, ao lado de gente que nunca vi, mas todos em
busca da mesma coisa que eu: atendimento médico. Rapidamente fui transferida
para mais outra sala de espera, e ali encontrei novamente a primeira mulher, e abri
imediatamente o tal sorriso (se quiserem saber como faço, manda uma mensagem).
Mas, já que a outra paciente ao meu lado era sorridente, num instante estávamos
trocando informações engraçadas sobre nossas aventuras pela estrada da saúde.
De muito bom humor (ainda bem, )fui chamada pelo médico, um sujeito objetivo e
desagradável no início, que foi se tornando mais flexível no final da consulta,
mas acho que foi o olhar de mãe dando bronca que lhe lancei, no estilo “ai,ai,ai,
menino!”(acho que vou dar um curso sobre interpretações aludidas). Ser mulher madura tem suas vantagens, mas
voltando à “vaca fria”, esse era o momento para conexões espirituais, pedindo
orientação ao povo lá de cima para não
botar a perder uma consulta que levou um ano para acontecer. Engoli um sapo e
fui transformando o bichinho em príncipe, e assimilei o que
realmente interessava: houve um equívoco no diagnóstico anterior, eu estava
livre de remédios, e com a indicação médica
para fazer o que amo, ou seja, me exercitar. Para sempre. Não sei mais muito
bem o que a palavra sempre significa, mas...ah, era isso? Ok, então vamos
saltitando para casa, cantando “Liberdade, abre as asas sobre nós”.
Aí, (achou que tinha acabado?), a motorista do táxi que chamei,
simpática e culta, me brindou com sua gostosa companhia. Entre nossas
afinidades, troca de informações e risos, compartilhamos alegria, um contágio
de vibrações positivas durante a viagem, a ponto de parecermos amigas de longa
data.
Entrei em casa com uma sensação parecida com aquela que eu
tinha quando brincava a manhã inteira e chegava em casa feliz. Quem já sentiu
isso vai me entender, porque já se deu conta da simplicidade das coisas quando
a gente para de reclamar, de criar expectativas trágicas, e se entrega um pouco
à vida. Confiando que nada é ao acaso, quem aprende a agradecer ganha o
privilégio de poder estar no lugar certo, na hora certa, do jeito certo, e
participar da grande jogada da vida.
Visitem meu site, lá tem mais!
http://ruttysteinberg.com
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Que bálsamo pra alma esse texto! Tão atual e bem escrito!
ResponderExcluirSou sua fã e do seu trabalho tb, Rutty!
Obrigada!
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