Autoestima, uma montanha russa?
Trabalhar a autoestima é o lema do dia. Parece ser algo que sobe e desce, domina as conversas atualmente, como uma espécie de montanha russa, justificando atitudes. Passeia por conceitos e manuais dos mais variados enfoques, ensinando, supostamente, como se faz isso. É preciso gostar de si mesmo para gostar do outro, dizem uns. Não! É gostar do outro mesmo que não goste de si mesmo, dizem outros. Contradições, questionamentos, e por aí vai. Essa é apenas mais uma reflexão, eu sei, mas como ninguém tem a torta inteira, algumas fatias podem nos levar a pelo menos acender mais uma luzinha na estrada.
Pra começar, segundo o que nós, seres humanos, podemos
alcançar, estamos nesse planeta e temos histórias pra contar. Ponto. E as mais
variadas versões, com a colaboração de nossas emoções, conscientes ou não, nos
ajudam a construir significados. Tiramos conclusões sobre quem somos avaliando
os atores e cenários de nossos romances, dramas, e interpretações às vezes
magistrais, mas nem sempre tão gloriosas. Nossas vidas lembram uma estante a
quem se pede que arrume os livros e o móvel com suas quase infinitas
possibilidades. Quais são os limites para pensamentos e imaginação, alguém
sabe? Nossas histórias têm o papel principal na compreensão da autoestima,
incluindo o pacote de interpretações sobre nossos equívocos e/ou superações,
sempre muito relativas. Afinal, com as infinitas formas de se abordar essa
questão, vale aquilo que cada um acreditar que é a sua realidade, já que é essa
que vai determinar, em última análise, qualquer tipo de avaliação ou até
transformação.
Sugiro um exercício que utilizei bastante no consultório
para desatar nós emocionais no processo de psicoterapia: peguemos uma foto
antiga, lá da infância, onde aparecemos com nossas carinhas registradas por
alguém que teve sabe-se lá que intenções ao fazer isso. Pegou a foto? Estamos tristes,
alegres, apáticos, quais as lembranças que são imediatamente acionadas? Fiquemos
alguns minutos recordando, desacelerando, respirando, sentindo. Não deixemos
passar batido os flashes, as setas que mostraram
o início do caminho, a bússola existencial, os primeiros valores, e as deduções
infantis, ainda imaturas. Calma! Se doer, respire, vá em frente. E se for bom,
curta a lembrança, solte-se um pouco, desligue o piloto automático, porque não
duvide de sua importância nos dias atuais. Pode estar apontando para a
necessidade de nos despedirmos de ideias que nos fizeram companhia nesse mundo
enorme, ou de dar a elas um “up”, criando novas alternativas. E se o nosso
estar no mundo estiver relacionado com as infinitas vezes que ouvimos e
assimilamos interpretações contaminadas pela visão alheia? Bem, nós poderíamos dizer que a “culpa” é dos
pais, da vida, do destino, do karma e até dos astros, mas o problema continua
sendo nosso.
Peguemos agora uma foto mais recente. Algo se repete? Talvez
o olhar, ou quem sabe o sorriso, ou até a cara fechada. E aí está mais uma
pista para a jornada. Sério, esse caminho exige determinação e uma boa dose de
valentia para reconhecimentos muitas vezes dolorosos. Quantas expectativas
frustradas, decepções, é verdade, mas também quantas superações, certo? Ah,
vai, dá um sorrisinho. E aí, magicamente, percebemos que ainda guardamos aquela
essência, mesmo que no espelho isso pareça estranho. Somos nós? Sim! Somos a
mesma pessoa, quase irreconhecível pelas marcas deixadas na caminhada.
E assim, de foto em foto, vamos detectando e alterando aqui
e ali algumas grandes verdades que nos guiaram até o momento; os valores e
significados que foram compondo nossa sinfonia de erros e acertos, sempre muito
relativos, passíveis de transformação. Sempre. Mas, pera aí!, podemos pensar, nossa
história é bacana, dava até um livro. Taí, gostei do meu desempenho!
Não desistimos,
vivemos situações incríveis, desafios, sabe-se lá quantos medos superamos,
quantas alegrias distribuímos... e, se
chegamos até aqui, há que se continuar pela estrada! Se há momentos em que
admiramos nossa forma de estar no mundo, também há outros onde percebemos que
há muito trabalho pela frente, mas sem dúvida, podemos ainda percorrer mais
caminhos que a vida nos oferece. Então, amigos, o que vocês acham? Autoestima é
uma montanha russa, ou quem sabe, depende do nosso investimento?
Rutty Steinberg
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