AIEMY DIBESTY E ROBBER ISMARTGAY
Aiemy Dibesty dividia
pessoas em castas, segundo seu próprio critério. Mais ousada do que bonita,seu
poder de sedução passava por uma compensação qualquer, sabe-se lá o que. Desde cedo, acostumou-se a ser a dona da
verdade, e aprendeu direitinho a supervalorizar suas conquistas.Ensinava a todos
como superar suas dores, desenvolveu uma mira fabulosa para fazer contato com
sofredores onde se sentisse à vontade para montar o cenário de amiga prestativa,
e como bônus, ganhar elogios a respeito de sua evolução espiritual. Com o
raciocínio lógico afiado, mesmo que duvidoso, eliminava qualquer emoção do jogo.
Engolia medo e inveja como artistas de
circo fazem com o fogo . Interessante seu lema: jamais deixar alguém levantá-la
ao cair. Seus pés não se fixavam direito
no chão onde pisava,o peito estufado de orgulho dissimulado desafiava o seu
equilíbrio, e por isso não enxergava a sua própria sombra.
Um dia conheceu um sujeito que era muito melhor do que ela
na arte da prepotência, e na busca de algum lucro. Ele disfarçou-se bem,
tentando demonstrar, através de gentilezas, favores e carinhos, uma paixão. Manejava sentimentos
de culpa como ninguém, um mestre nesse tipo de projeção. Robber Ismartgay
humilhava, num “morde-e-sopra” perfeito. Tudo para ofuscar o brilho que enxergava nos
superadores de desafios, porque isso ele não suportava. Entrava de mansinho na vida dos que se enxergam
muito além do que são, reféns da ingenuidade negada, e gradativamente ia
mostrando suas garras. Robber e Aiemy formaram um casal de filme, no início. Mãos
dadas até pra comprar pão, bitocas a cada passo, café na cama, onde seu
desempenho era fenomenal, graças ao constante treinamento via filmes pornôs,
talento e vivência de malandragem. A coisa parecia funcionar muito bem, e foram
momentos de glória para o ego de Aiemy Dibesty. Seu negócio de especialista em
comportamento humano bombou. Orelhas de livros, mensagens da internet sobre as
formas mais modernas da ciência para a felicidade, atalhos maravilhosos para permanecer
em zonas de conforto, mas estudar? Nem pensar!
Enquanto isso, Robber Ismartgay aprimorava-se em
contabilidade e contatos para administrar o negócio. Dizia ser esse seu forte, necessitando
equipamentos de última geração, com câmeras, porque nada substitui a imagem. Justificando
estar muito cansado, trancava-se em um dos quartos, levando tudo, porque nunca
se sabe, não dá para perder oportunidades. Ria sozinho de seus truques,
gabava-se de não sentir solidão, e topava qualquer coisa onde não se sentisse
vulnerável. Nesse esconderijo de si mesmo, sentia-se protegido, com o controle
total de qualquer situação.
Próprio de quem vive nas nuvens ao lado de seres superiores,
Aiemy e Robber seguiam com o sorriso de vitória nos lábios. Mas, nem sempre as
coisas são como parecem ser. O tédio e o vazio foram implacáveis. E os deuses
resolveram brincar um pouco com a consciência do tempo. Mandaram baixar a
poeira e abriram as cortinas. O espelho, que sempre está diante de nós, refletiu um homem sem brilho próprio e uma
mulher sem atrativos, os dois empurrando a vida com a barriga. As luzes
alcançaram o mistério da humanidade. O
casal viu enfim a própria nudez , sem graça. Aiemy e Robber se abraçaram e choraram juntos pela primeira
vez, desejando resgatar o tempo perdido na encenação. Mas, nada a fazer, a não ser deixar o palco, agora sem ninguém para aplaudir.
Dizem por aí que suas
lágrimas formaram um rio que reflete casais apaixonados por si mesmos, fazendo com que eles se deem conta da própria solidão.
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