LER, UM ATO DE AMOR
“O que a literatura faz é o mesmo que acender um fósforo no campo no meio da noite. Um fósforo não ilumina quase nada, mas nos permite ver quanta escuridão existe ao redor.”
William Faulkner.
Um dos grandes
tesouros nessa vida é a possibilidade da gente se encantar com bons livros.
Como se estivéssemos recebendo uma visita querida em nossa casa, acendemos as
luzes, e nos posicionamos para compartilhar experiências. Da mesma forma, abrimos
nossos canais de recepção para ler, ouvir, sentir, imaginar aquilo que o
escritor nos transmite. Chamo a isso ler com a alma, que uma pessoa muito querida chamava
de “transportadoras”. São as leituras que nos
emocionam, nos fazem refletir, muitas vezes ocasionando mudanças importantes em
nossa visão, ou confirmando maneiras de se experimentar as vivências que temos.
Muitas vezes elas complementam ideias que foram já plantadas, ou mesmo tiram o
véu que as encobria, nos levando a criar e a agir com novos estilos. Trocam o
canal da consciência, trazem outra sintonia. Com as novas possibilidades da
informática, carregar nossa biblioteca na bolsa é bem mais tranquilo. Existem
livros perfeitos para se esperar nas filas e nos consultórios; há outros para
nos largarmos no sofá, ao som do silêncio. E quando estamos mais
introspectivos, cheios de perguntas, podemos escolher os estudos que nos
apaixonam. Todos nós precisamos também de momentos leves, sem compromisso,
regados por risadas e bom humor. E ainda há aqueles que despertam a admiração
pelas palavras bem colocadas, e os que nos contam histórias interessantes. A lista é
infinita. Há os de cabeceira, que nos acompanham, dos quais sentimos saudade
quando nos afastamos. E os que emprestamos e não voltaram. De repente, ficaram
por onde poderiam ser mais úteis. E os que abrimos para retirar mensagens,
simplesmente pelo prazer da companhia dos que consideramos sábios para aquele
momento? O que dizer dos que falam conosco, que parecem ter sido escritos para
nossos momentos mais íntimos? Quem ainda não foi “atropelado” por um livro que
parecia estar a nossa espera?
Algumas pessoas
acreditam que não podemos passar para outro livro antes de finalizarmos o
anterior. Não vejo assim. Os interesses a cada momento podem variar, e com isso
novas necessidades surgem, outros assuntos nos atraem. São outros visitantes batendo
à porta para novas conversas. Mais adiante, podemos retornar e prosseguir no
bom papo que estávamos batendo antes, e, se for o caso, estender a troca mais
profundamente, por horas a fio. Por que não? Nós, humanos, temos almas
caprichosas, que abrigam crianças aventureiras e curiosas, vestidas de adultos.
Querem conhecer mais sobre como a vida se expressa através de gente como elas,
que sonham, imaginam, pesquisam e apresentam suas conclusões ao mundo.
Feliz daquele que se
deixa envolver amorosamente pela arte exposta nos livros, pertencendo a um
grupo que viaja a mundos incríveis transportado pela consciência.
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