CULPA, ENERGIA PARALISANTE
Há momentos na vida em que parece até que temos um tribunal dentro da gente: promotores, advogados de acusação e de defesa, juiz, jurados, e tudo o que acontece com um réu sendo julgado, como nos seriados de TV. Bem, e adivinhem quem é o réu... ali, encolhidinho de culpa, remoendo erros e falhas em qualquer situação, justa ou injusta, absolutamente paralisado diante das interpretações que podem ser qualquer coisa. Mas, basicamente, a mensagem parece ser: “Você não tem direitos, cale-se!”. E de quem é a voz que acusa? De onde ela vem, sussurrando que há culpa nas mãos que talvez tenham agarrado inadvertidamente uma batata quente lançada por algum atleta campeão em fugas?
Lembram daquela brincadeira de criança, de estátua? De repente havia um comando, alguém gritava
“Estátua!”, e aí a gente parava do jeito que estava e não podia se mexer, até
receber outro comando para relaxar. Acho que os jogos infantis são realmente um
belo treinamento para a vida. Parar, voltar a agir, refletir, meditar, pensar,
sentir, desacelerar, respirar, prosseguir... e vez por outra parar para obras e
reformas, quando se forma o tal tribunal descrito acima. E ali há que se
descobrir a verdade, a honestidade, a sinceridade de propósitos. Tarefa nada
fácil ter consciência das motivações que regem comportamentos, sempre baseadas
em crenças, conscientes ou inconscientes, naquilo que cada um percebe, que gira
ao redor de sua constelação. Antes do veredicto, não sejamos como alguns que exercem a sua tirania desconhecendo o número
do sapato que o outro calça. Sejamos justos com a nossa trajetória!
Na nossa vida, se estamos interessados no desenvolvimento
pessoal, examinamos questões e conflitos dentro de um contexto cada vez mais amplo,
reunindo sentimentos, o que já se sabe a
respeito de pessoas, relacionamentos, situações, experiências anteriores,
propósitos, sonhos, projetos, frustrações, limites, possibilidades...tudo isso
na tal constelação, ou consciência, que está sempre se expandindo, conectada a
um campo imenso, matéria prima de estudos ultramodernos ( de origem
antiquíssima, diga-se de passagem), e abarcando o nosso próprio subterrâneo
adormecido. E seguindo o caminho do
ponto de interrogação ambulante, as perguntas básicas (há muitas mais) podem
ser se há o que consertar, ou se foi feito tudo o que era possível dentro dos
próprios limites e circunstâncias. Machucou? Cuidemos da ferida! Esta
não é uma reflexão para imediatistas que buscam atalhos para se livrar de seus
dilemas. É uma espécie de apelação, - e
para isso a autoestima precisa estar em
dia - sobre os fatos que devem ser reavaliados, abrindo o caminho para novos
significados e valores. Será um passo a mais estrada afora, isso se não sucumbirmos aos dedinhos que apontam na direção do
nariz, para não permanecermos como estátuas, congelados. É sempre bom lembrar
que congelamento e depressão andam de
mãos dadas.
Eu sei, dói romper expectativas idealizadas, dá medo confiar na intuição para fechar ou abrir
portas tapando os ouvidos para os atletas da projeção. Mas essa parece ser a
maneira de abrirmos o caminho para dissolver
a culpa paralisante, ouvir o comando para relaxar a estátua, e simplesmente prosseguirmos.
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