quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Cadê minha maleta?

                       CADÊ MINHA MALETA?



Juliana queria ser como as mulheres que via nas revistas, e se esforçava para imitá-las em tudo, não medindo esforços para conquistar a imagem que via fora de si. Amigos lhe diziam que ela não precisava gastar sua energia dessa forma, pois já era linda, forte, com muitas superações familiares e profissionais, e outras, além de uma alegria que contagiava a todos. Mas, ela não via assim, buscava defeitos em si mesma, sem dó, repetindo para quem quisesse ouvir aquilo que precisava mudar nela, desvalorizando-se a olhos vistos. 
Um dia, ao adormecer cansada de tanto se menosprezar, sonhou estar passeando à beira-mar, comparando-se, como sempre, às outras mulheres que via esbeltas e lindas, quando ouviu uma voz vinda de algum lugar que não identificou: 
- Juliana, novamente se comparando? Esse é o melhor caminho para se carregar o mundo nas costas. Lembre-se que culpas, exigências e ressentimentos pesam! 
Sem saber de onde vinha a voz, apesar do susto, continuou andando. E a voz disse a ela:  
- Questionar é importante, olhar ao redor, mas você precisa aprender a retornar ao centro de si mesma, admirar os seus próprios desafios, alguns superados, outros que ficaram parados no meio do caminho, é verdade, mas é assim mesmo na vida, ninguém dá conta de tudo. Foram anteriormente escolhidos, e devem ser valorizados porque fazem parte de sua evolução. Mas, você está se tratando mal, Juliana.
- Quem é você?
- Importa apenas a minha mensagem, relaxa.
A essa altura ela decidiu se deixar levar pela voz interna:
- Ao nascer, você recebeu uma maleta existencial, com várias ferramentas para te ajudarem durante a sua passagem pela vida. Não a deixe de lado, ignorando cada uma dessas ferramentas. Nela há símbolos, antigas e novas histórias, muitas possibilidades, treinamentos, lições, habilidades, dons e muito mais. Pare de desejar a maleta alheia. Tome coragem e vá conhecer aquilo que pode transformar sua vida. 
- Então, voz, me diga: cadê essa minha maleta?  
- Juliana, há momentos na vida em que ficamos fascinados com as descobertas alheias sobre a vida, questionamos nossas próprias escolhas e o rumo que temos seguido, e que produziram resultados naturalmente diferentes. Ao nos compararmos, usando óculos com um grau inadequado, não enxergamos mais nossas maletas. Assim, deturpamos completamente as conclusões a que chegamos, onde os “tenho que”, os “não devia isso”, e os “se eu...” nos tornam surdos aos gritos da autoestima e cegos às nossas possibilidades. 
Silenciou-se a voz. 
Quando Juliana despertou, sorriu. Havia compreendido a mensagem, e sentiu-se pronta para novos começos. Entendeu que maletas existenciais estão à disposição de quem ousa olhar de verdade para dentro de si mesmo.